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Essa mensagem sobre o desodorante antiperspirante que causaria câncer de mama surgiu nos Estados Unidos em maio de 1999 e provocou vários desmentidos por lá. A American Cancer Society - ACS foi uma das entidades a afirmar que tudo não passava de um falso alarme. No site da ACS encontra-se análise da mensagem.
A afirmação essencial da mensagem distribuída é imediatamente rechaçada:
Imagino que se isso fosse verdadeiro já se teria chegado, se não a uma solução para o grave problema, pelo menos a um paliativo, uma solução de emergência enquanto não se obtém a cura completa dessa doença.
Qual o paliativo? Péssimo, em minha modesta opinião (IMHO ;). As mulheres deixariam os pelos das axilas crescer, continuariam a usar o desodorante antiperspirante e, dessa forma, estariam mais imunes a esse mal. Mais imunes e menos cheirosas, talvez, em virtude de o desodorante ficar nos pelos e não na pele. Mas é bom lembrar que, em algumas culturas, em alguns países, as mulheres não se depilam e nem por isso a incidência do mal entre elas é menor. (Há quem aprecie o gênero. Os pelos crescidos.)
Se isso fosse verdade, então o desodorante usados pelos homens não estariam onde deveriam estar - na pele da axila - para produzir o esperado efeito e eles seriam bem mais fedorentos...:)
Pergunta-se: qual a incidência de câncer de mama em nadadores que se depilam totalmente, inclusive nas axilas?
Seria ótimo se os grandes problemas da humanidade tivessem soluções tão simples!
Debbie Saslow, diretor da ACS finaliza:
"Infelizmente, os principais fatores de risco de câncer de mama são coisas que a mulher nada pode fazer a respeito para impedi-los. São eles: ser mulher, envelhecer e possuir história de câncer de mama na família.
"O melhor que as mulheres podem fazer é realizar anualmente os exames de mamografia. Isso não previne nem impede a ocorrência, mas possibilita a detecção do mal em seus primeiros estágios, quando é mais fácil tratar." (Citado em Ingredient Fact Sheet: Buffered Aluminum Sulfate )
É bem provável que um percentual bastante significativo das mulheres com essa doença usem ou tenham usado desodorante antiperspirante. Do ponto de vista científico, isso nada significa. É o mesmo que estabelecer uma correlação entre afogamentos na praia e o consumo de sorvetes e atribuir ao sorvete a causa dos afogamentos.
Essa lenda é mais uma daquelas que exploram a credulidade das pessoas. Ela se apoia no temor das pessoas em contrair uma doença grave e sem cura quando em estágios mais avançados. (Há pessoas que sequer pronunciam o nome da doença. Para referir-se a ela, dizem "cê-a".)
Quando alguém passa adiante uma mensagem dessa natureza ela acredita estar fazendo um grande bem. Ela espalha uma inverdade.
E a doutora Katrina Scott existe?
A dona Katrina Scott, suposta autora da mensagem original, não existe. Se você fizer uma pesquisa nos principais sistemas de busca norte-americanos (Altavista, Yahoo, Excite, Hotbot, Fast AllTheWeb) não vai encontrar nada sobre ela. Pergunta-se: como é possível que uma criatura que fez uma "descoberta tão importante" não apareça na web nem tampouco seja citada pelos seus pares?
Perdão, ela aparece. Mas sempre vinculada à tal mensagem. Um dos sites em que ela aparece é especializado em cromoterapia, terapia vibracional, aromaterapia, "Chakra Therapy" (como se traduz?), tarôs e oráculos. A mensagem da Katrina encontra-se aí e com uma curiosa observação: copyright by Katrina Scott. ALL RIGHTS RESERVED.
Quem pesquisar o nome Katrina Scott no Google, por exemplo, vai receber mais de 470 respostas. Uma delas remete ao sítio Katrina Scott’s Journal May 8, 1615. Pela data, dá pra perceber que não é a mesma pessoa. Outras respostas remetem a fotos de casamento e mais dezenas de scotts.
Ainda que Katrina Scott existisse ela se apresenta como Diretora Assistente de Marketing De Esporte da Universidade de Maryland. Qual a autoridade científica ou conhecimentos médicos que uma assistente de marketing de esportes possui para tratar de um assunto tão especializado? Se as pessoas que traduziram ou passaram a mensagem adiante tivessem feito a si próprias essa pergunta talvez não a tivessem encaminhado.
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