|  | Lenda
Litoral paulista em alerta: água de coco transmite a doença de Chagas |
A 'notícia' sensacionalista surgiu em agosto de 2003 e deixou muita gente preocupada: beber água de coco pode causar a doença de Chagas.
Para dar credibilidade à 'notícia', são mencionados o jornal Folha de São Paulo e a secretária de saúde do estado de São Paulo.
Primeira confusão: talvez o autor pretendesse referir-se à secretaria, pois, em agosto de 2003, o titular da Secretaria de Saúde do Estado de São Paulo era um homem, o médico Luiz Roberto Barradas Barata e não Gonzalo Vecina Neto como diz a mensagem. (Ver Relação de nomes, cargos e endereços da Secretaria de Saúde do Estado de São Paulo.)
Portanto, primeira informação falsa: o nome do secretário de saúde do estado de São Paulo. Segunda informação falsa: a suposta 'notícia' não foi publicada pela Folha de São Paulo. Nem na edição de 27 de Julho de 2003 nem em qualquer outro dia.
Tem mais.
O 'alerta' é assinado pelo Infectologista Dr. Mário Brandão de Lima Neto. Ao pesquisar esse nome no quadro de pesquisa do Conselho Regional de Medicina - CREMESPE - SP, retorna o resultado "Nenhum registro foi encontrado."
Há uma versão 'assinada' por estagiária do Instituto Butantã e foi mais um caso de descuido: a assinatura dela foi posta na mensagem pelo programa gerenciador de mensagens. Ficou parecendo que ela e o Instituto Butantã eram os autores ou referendavam o conteúdo do texto. É o que nos informa Caroline.
Resumindo: a Folha não veiculou a matéria, não há registro da existência do infectologista mencionado, a pessoa mencionada não é o secretário de saúde do estado de São Paulo.
Um indicador de que a mensagem não deve merecer crédito é a imprecisão de datas. Ela diz que A secretária de saúde do estado de São Paulo divulgou hoje um informativo. E acrescenta: Dezenas de casos foram diagnosticados no último mês.
Uma fonte confiável informaria a data da divulgação do informativo e diria os nomes dos meses em que foram detectados os casos mencionados.
E daí? A água de coco pode ou não pode transmitir a doença de Chagas?
Segundo o artigo Doença de Chagas, são as seguintes as principais formas de transmissão da doença: * "a transmissão natural ou primária [...] é a vetorial, que se dá através das fezes dos triatomíneos, também conhecidos como 'barbeiros' ou chupões";
* a transmissão transfusional (através de transfusão de sangue contaminado).
O mesmo texto menciona "a hipótese de transmissão por via oral em alguns surtos episódicos" e outras formas de menor importância epidemiológica: transmissão congênita, transmissão acidental em laboratório e a transmissão pelo leite materno.
A doença de Chagas é transmitida, principalmente, pelos Triatoma infestans que infestavam as zonas rurais desde o Maranhão até o Rio Grande do Sul. Segundo a FUNASA, esse inseto, mais conhecido como 'barbeiro' ou 'chupão', foi virtualmente eliminado do país. (Vale lembrar que o 'barbeiro' pode ter sido virtualmente eliminado, mas ainda existem pessoas portadoras dessa doença. Estimativas falam de 3,5 a 6 milhões de chagásicos no Brasil.)
A mensagem diz que Os coqueiros têm baixa imunidade.
Na verdade, os coqueiros, assim como os demais espécimes do reino vegetal, não possuem imunidade alguma.
Isso de imunidade é coisa existente entre animais (e entre de políticos corruptos que dela necessitam para se manter fora da cadeia. Mas isso já é outra doença :-)
Consultada sobre a mensagem, a Assessoria de Imprensa do Centro de Vigilância Sanitária da Secretaria de Saúde do Estado de São Paulo afirmou:
Não existe nenhuma verdade nisso. É um completo absurdo!
Qualquer dúvida entre em contato com o Centro de Vigilância Epidemiológica e tente falar com um epidemiologista. (fone: 3066-8761/Assessoria de Imprensa, falar c/ Ciça) |
Conclusão: é muita mentira junta :)))
Mas tenha cuidado ao beber água de coco. Tome algumas precauções. Use um canudinho, por exemplo. A casca do coco pode estar contaminada e o contacto com os lábios pode transmitir alguma doença.
Entre fevereiro e junho de 2005, surgiram vários casos de doença de Chagas no estado de Santa Catarina. "Tais casos ocorreram por terem sido produzidos, engarrafados e distribuídos litros de caldo de cana que continham, sem o conhecimento dos produtores, infestação dos barbeiros, insetos transmissores do mal de Chagas." (V. Os leitores comentam.)
Mas atenção para esta notícia:
No período de janeiro de 2005 a agosto de 2007, a Secretaria de Vigilância em Saúde (SVS/MS) recebeu a notificação e vem participando das investigações de 22 surtos de DCA [Doença de Chagas Aguda] em vários Estados. Na maioria destes eventos pode-se comprovar a associação da ocorrência de casos com o consumo de alimentos in natura, como caldo de cana (Santa Catarina - 2005 e Bahia - 2006), bacaba (Maranhão, Pará - 2006) e especialmente do açaí (Pará – 2006 e 2007, Amazonas - 2007). Um total de 170 casos e 10 óbitos (letalidade de 6,5%) de DCA foi identificado até o momento, sendo a maior incidência registrada na região norte. |
Mais:
15 de outubro de 2011 Seis pessoas com mal de Chagas após tomar suco de açaí na cidade de Pinheiro - MA.
Quinta-feira, 20/10/2011, Diário do Pará. Mais duas pessoas morrem com doença de Chagas
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O perigo, portanto, não se encontra na água de coco, mas no preparo inadequado de alimentos como a polpa do açaí e o caldo de cana. Ao contrário do que se costuma dizer, a doença de Chagas ainda não foi erradicada do país.
Os leitores comentam. Mensagem original (sem correções): Assunto: LITORAL PAULISTA EM ALERTA
A notícia abaixo foi publicada no mais importante jornal do estado, a Folha. O assunto também saiu em várias outros publicações de alta credibilidade. É um assunto que interessa a todos, principalmente por se tratar da sua saúde. Por favor, repassem para todas as pessoas da sua lista pois trata-se de um assunto seríssimo.
Dr. Mário Brandão de Lima Neto - Infectologista
LITORAL PAULISTA EM ALERTA
Secretário da saúde divulga alerta sobre o consumo de coco na região, que pode provocar uma doença sem cura
A secretária de saúde do estado de São Paulo divulgou hoje um informativo alertando às pessoas a não consumirem água de coco natural proveniente litoral paulista. Segundo o secretário Gonzalo Vecina Neto, a fruta produzida no litoral do estado está infectada com o protozoário Trypanosoma cruzi, causador da Doença de Chagas.
Dezenas de casos foram diagnosticados no último mês, nas cidades de Maresias, Ubatuba, Caraguatatuba e São Sebastião.
Segundo especialistas, o desequilibrio ambiental causado é o causador dessa anomalia. Alterações na fauna da região, que envolve um pedaço da Mata Atlântica, permitiram que o protozoário atuasse livremente, instalando-se em animais que depositam suas fezes no solo e contaminam a vegetação da região.
Os coqueiros têm baixa imunidade, afirma, o que permite que o Trypanosoma cruzi instale-se nela e contamine os frutos. Se não é diagnosticada na fase aguda, quando ainda tem cura, a Doença de Chagas evolui para a forma crônica.
Os Tripanossomos instalam-se nos músculos humanos, especialmente no coração. Ao atingir e destruir fibras musculares, provocam insuficiência e arritmia cardíaca, que podem levar à morte.
FOLHA DE SÃO PAULO - 27 de Julho de 2003 |
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