Desvendando lendas, hoaxes e mitos da Internet desde 1999. Lendas urbanas, pulhas virtuais, boatos, desinformação, teorias conspiratórias, mentiras, vírus, cavalos de troia, golpes e muitas outras coisas que vagam pela Internet.
Coleta de ovos de tartaruga na Costa Rica: vergonha mundial?
Mensagens indignadas percorrem a Internet protestando contra a coleta de ovos de tartaruga na Costa Rica. Deputado federal acha que isso acontece mesmo é no Rio Solimões, no que discordam raivosos ambientalistas que asseguram se tratar de coisa do MST - Movimento dos Sem Terra. Não os da Costa Rica, mas os daqui mesmo do Brasil. (Ou seria Movimento dos Sem Tartaruga? :)
Difícil de entender. Portanto, vamos por partes.
Na Costa Rica, país da América Central, existe uma praia de nome Ostional. É uma praia pequena, com cerca de um quilômetro de extensão, areias escuras, situada na península de Osa na costa do Pacífico. É para lá que se dirigem, todos os anos, quatro espécies de tartarugas: a Eritmochelys imbricata, a Chelonia agassizzi, a Dermochelys coriacea e a Lepidochelys olivacea.
A finalidade da visita a essa praia é a desova. Algumas delas chegam em pequena quantidade, mas a natureza faz com que as da espécie Lepidochelys olivacea compareçam em grande cópia. Segundo Anidación de la tortuga lora..., as tartarugas dessa espécie podem chegar a mais de duzentos mil fêmeas num período de arribada.
Elas vão chegando e desovando sem a preocupação de perguntar se aquele lugar da areia já se encontra ocupado com ovos de outra tartaruga. Não perguntam, até porque têm dificuldades com a fala, nem tampouco percebem se o lugar já contém ovos de sua irmã ou prima.
Como o trecho de praia é pequeno e as tartarugas, por razões desconhecidas, dão preferência àquele lugar, o que ocorre é uma grande concentração de ninhos: muitos ovos em pequena faixa de areia.
Cada tartaruga pode botar até cem ovos. Milhares de tartarugas, milhares de ninhos, alguns milhões de ovos.
Além do predador homem, que comprometia a vida dos quelonídeos, havia outro problema mais sério: cada vez que o mar trazia uma nova leva de tartarugas, elas remexiam os ninhos deixados pelas que haviam se antecipado na desova.
Nesse mexe e remexe, las tortugas recém-chegadas quebravam ovos, desmanchavam os ninhos anteriores deixando tudo numa verdadeira mixórdia.
Em pouco tempo, os ovos quebrados apodreciam e contaminavam os ninhos próximos e a presença de bactérias comprometia, ainda mais, o índice de eclosão e de sobrevivência dos queloninhos. A destruição atingia até oitenta por cento dos ovos de uma arribada.
Preocupado, o governo da Costa Rica criou, em 1983, o Refugio Nacional de Vida Silvestre de Ostional (RNVSO) e um rígido controle de coleta de ovos de tartarugas.
Funciona assim: durante as primeiras trinta e seis horas de uma arribada é permitida a coleta de ovos. A partir daí, fica proibida.
Na verdade, a coleta é dos ovos que se quebrariam e não iriam produzir filhotes, pois seriam destruídos pelas fêmeas da segunda leva. Além de se quebrarem, eles se transformariam em focos de contaminação.
Utilizando esse tipo de manejo, os ambientalistas verificaram aumento de até vinte por cento na taxa de eclosão e de nascimento de filhotes.
Conclusão: não se trata de atividade ilegal nem predatória, mas de coleta supervisionada e controlada que trouxe dois resultados visíveis:
- aumento significativo do índice de sobrevivência dos filhotes;
- melhoria nutricional e de renda dos moradores da comunidade sem comprometer o meio ambiente.
Folclore 1
Uma das versões da mensagem sobre a suposta destruição de ovos de tartarugas vem com a frase indignada:
VEJAM O QUE ACONTECE NA MARGEM DE UMA PRAIA PRÓXIMA A UM ASSENTAMENTO DO MST!!!
Dá para imaginar a manchete em jornal anti-MST:
Integrantes do MST destroem ovos de tartaruga na Costa Rica
Essa Costa Rica não seria grande fazenda de rico latifundiário brasileiro, mas o país localizado na América Central.
Folclore 2
Deputado pernambucano, indignado com a falsa coleta ilegal, "denuncia" em sua página:
Quarta, 17 de Março de 2010 13:31 Agressão ao ecossistema do Rio Solimões
Um grande desrespeito ao ecossistema na região amazônica compromete a preservação e a reprodução das tartarugas de rio. Os Moradores que vivem à margem esquerda do Rio Solimões tem (sic) roubado os ovos da espécie para vender. Diante do fato, o deputado federal Raul Jungmann (PPS-PE) encaminhou o caso ao Ministério do Meio Ambiente e solicita explicações ao ministro Carlos Minc sobre esta agressão.
Confira abaixo as imagens dos moradores no momento da infração.
Rio Solimões!
O deputado socialista não se deu ao trabalho sequer de olhar as imagens, pois se desse uma rápida olhadela talvez ficasse surpreso com as enormes ondas desse Rio Solimões. Ondas que matariam de inveja qualquer surfista da praia do Arpoador no Rio de Janeiro.
Veja que ondas.
Mais um erro de sua excelência, deputado-legislador: ao contrário do que ele diz em sua página, o suposto roubo de ovos não seria apenas uma infração, mas um crime contra o meio ambiente.
O deputado pisou na bola com essa história das tartarugas do Rio Solimões, mas acerta em cheio ao propor a PEC-178/2007 que "Dá nova redação aos arts. 93, 95 e 103-B, da Constituição Federal, para vedar a concessão de aposentadoria como medida disciplinar e estabelecer a perda de cargo de magistrado nos casos de quebra de decoro."
Segundo o deputado, "Um desembargador do Tribunal de Justiça do Estado do Amazonas (TJAM) que vendia sentenças foi condenado este ano, pelo Conselho Nacional de Justiça (CNJ), à pena máxima na esfera administrativa: aposentadoria compulsória.
"O mesmo destino tiveram dez magistrados do Tribunal de Justiça do Mato Grosso (TJMT), acusados de desviar aproximadamente R$ 1,4 milhão para uma loja maçônica.
"Um desembargador do Tribunal de Justiça do Estado do Amazonas (TJAM) que vendia sentenças foi condenado este ano, pelo Conselho Nacional de Justiça (CNJ), à pena máxima na esfera administrativa: aposentadoria compulsória."
Tartarugas na praia de Ostional, Costa Rica.
Arribada em Ostional.
Conflicto en el Refugio de Vida Silvestre de Ostional.