A lenda sobre chaves magnéticas de hotéis surgiu nos Estados Unidos em 2003, tem viajado bastante ao redor do mundo e se hospedado em vários países. Por onde passa, deixa atrás de si uma versão e muitas preocupações entre hóspedes da rede hoteleira. Preocupações desnecessárias.
Versão que circula na França é assinada por Benyamin Dahan - Chef du departement des cellulaires - Police d'Israel. Versão analisada em HoaxSlayer cita o responsável pelo alerta: Sergeant K. Jorge, Detective Sergeant From the Colorado Bureau of Investigation.
A lenda das chaves magnéticas, como todas as lendas urbanas, resiste ao tempo apesar de ser esclarecida e desmentida em todos os países onde ela se hospedou. A versão brasileira nem necessitaria de desmentidos, pois basta ler a mensagem com atenção que se percebem os disparates.
Só para arranhar a credibilidade da versão brasileira vamos ver o que diz uma das informações supostamente registradas na tarja magnética:
e. Número do cartão de crédito, e sua data de validade, do hóspede!
O que se depreende é que o hóspede possui uma data de validade :} Certamente não era bem isso que o tradutor da lenda pretendia dizer, mas foi o que ele escreveu. Logo mais, o restante da história perderá sua credibilidade, pois se trata de uma lenda sem pé nem cabeça
Começando pelo apelo final: Repasse para amigos e familiares. Basta essa frase para a mensagem entrar no rol das coisas imprestáveis, mas vejamos o resto.
As primeiras mensagens que circularam no Brasil ainda mencionavam o departamento de polícia da cidade de Pasadena - Califórnia, nos Estados Unidos. Isso aconteceu até julho de 2007 e a partir daí o repassador de lendas nativo fez a sua parte e trocou o departamento de polícia de lá pelo Departamento de Polícia Federal daqui.
Segundo a mensagem, Quando você as devolve na recepção, suas informações ficam lá disponíveis para qualquer funcionário com acesso ao 'scanner' do hotel.
Na verdade, informações mais completas encontram-se na ficha preenchida pelo hóspede. Se um funcionário desonesto as quiser é só copiar as fichas ou dados em cd ou outro dispositivo. Bem mais fácil do que levar chaves para casa e ainda ter de adquirir um scanner para decodificá-las.
Ainda que em algum momento tivesse ocorrido algum caso dessa natureza, e aqui no Brasil não existem queixas policiais nesse sentido, os donos de hotéis, os fabricantes dos cartões eletrônicos e dos programas já teriam tomado as providências para que não mais fosse possível esse tipo de fraude.
O fato é que
- não existem boletins de ocorrência referentes a chaves magnéticas roubadas contendo número de cartão de crédito;
- se tivesse havido algum caso dessa fraude o hotel seria mencionado, o hóspede teria direito a indenização e, sem dúvida nenhuma, o hotel perderia muitos clientes;
- mesmo que no ano de 2003, ou em 2007, tivesse ocorrido falha no sistema de controle de chaves eletrônicas a esta altura, decorridos sete anos (ou três anos), o sistema já teria sido corrigido e as falhas e vulnerabilidades eliminadas;
Se nada disso for convincente:
- o número do cartão de crédito é registrado, automaticamente, através do scanner de cartão no momento em que o hóspede paga a conta e não quando o hóspede chega ao hotel. Dessa forma, é impossível que o cartão eletrônico ou chave magnética contenha informação que ainda não foi fornecida pelo hóspede. Por que motivo a administração do hotel iria regravar a chave, agora com o número do cartão de crédito, na hora da saída do hóspede?
Hotéis e fabricantes de software e de equipamentos informam que na chave magnética são gravados, apenas, o número do apartamento, o código atribuído ao hóspede ou ao cartão, data de chegada e período de validade da chave, ou seja o tempo previsto de estada do hóspede. Nenhuma informação adicional é gravada, pois a finalidade da chave magnética é fazer o mesmo que chaves metálicas fazem: abrir portas.
Ainda não se convenceu? Então mais algumas perguntas:
Quem viaja deve ler este email, pois quem enviou estuda hotelaria. Qual o nome do aluno de hotelaria? Essa é uma das contribuições do tradutor brasileiro, já que a versão norte-americana não indica quem garante a veracidade do texto.
Os hotéis não podem cobrar pelas chaves (é ilegal). Qual a lei que estabelece a proibição de o hotel cobrar por danos ou pela perda de bens de sua propriedade? Se a chave é propriedade do hotel, pelo menos teoricamente, ele poderia cobrar por ela, caso tenha se extraviado enquanto em poder do hóspede. Se não cobrar, é uma questão de liberalidade da empresa.
um monte de informações pessoais valiosas. Evidente exagero, pois, ainda que a mensagem dissesse a verdade, - e não diz - a chave magnética conteria, apenas,
- o nome,
- o endereço parcial (o que é endereço parcial?),
- o número do quarto (que de nada vai servir para o funcionário desonesto),
- as datas de entrada e de saída, que também de nada servirão para o funcionário desonesto.
Uma única informação seria valiosa, e não um monte delas: o número do cartão de crédito que não é gravado na chave.
Repasse para amigos e familiares. Esse apelo é a marca fatal da pulha virtual :}
Milton, um dos nossos colaboradores, ficou intrigado com essa história e consultou a ABIH - Associação Brasileira da Indústria de Hotéis. Em resposta, a ABIH encaminhou mensagem recebida de fabricante da chave:
"...
Nesse cartão é gravado o código da unidade de recepção, o número do apartamento e a quantidade de diárias. Não é possível gravar mais nenhuma informação nesse cartão. Após seu periodo de programação, o cartão fica inválido automaticamente."
Conclusão: não se preocupe com as chaves magnéticas dos hotéis. Elas servem apenas para abrir a porta do seu apartamento. Mais nada. As informações nela gravadas não oferecem nenhum risco para a sua segurança e para nada servirão se caírem em mãos de um vigarista.