|  | Lenda
La Marioneta, a falsa despedida de Gabriel García Márquez |
Gabriel García Márquez faleceu no dia 17 de abril de 2014, aos 87 anos. |
Desde 1999, circula pela Internet poema atribuído ao escritor colombiano Gabriel García Márquez ganhador do Prêmio Nobel de Literatura de 1982.
O poema é intitulado La Marioneta ou "A despedida de Gabriel García Marquez" e é apócrifo.
Tudo teria começado com a notícia, divulgada pelo jornal peruano La República, que o escritor contraíra câncer linfático e estaria em estado terminal. Pouco tempo depois, o texto começou a ser divulgado.
O próprio escritor desmentiu, posteriormente, as duas coisas: não se encontrava em estado terminal e não havia escrito a tal despedida. Confirmou, no entanto, que estava se submetendo a tratamento contra câncer linfático. (Em setembro de 1999, ele internou-se numa clínica de Los Angeles.)
O texto apócrifo tem circulado bastante na Internet e em alguns jornais. O Globo do Rio de Janeiro e o Jornal do Commercio do Recife - JC (edição de 06 de setembro de 2000) o divulgaram.
Para o JC, o texto é "emocionante e inesquecível".
Segundo a Crônica do falso adeus de Orlando Maretti, "Gabriel García Márquez, ou Gabo, para os amigos, [...] não apenas negou, pela imprensa, que estivesse em estado terminal como também espinafrou a pieguice do texto e seu autor, identificando-o como um subliterato latino-americano.
Em recente entrevista ao jornal espanhol El País, o escritor colombiano lamenta a repercussão do texto."
Orlando Maretti acrescenta: "...a primeira pista para duvidar da autoria é a insistência na citação vocativa de Deus.
Pelo que se sabe, García Márquez é um escritor de esquerda, simpatizante do marxismo, amigo de Fidel Castro, militante de causas sociais.
Enfim, um humanista engajado, mas nem de longe seu perfil lembra um religioso."
Em La Marioneta encontra-se a versão "original" do poema em espanhol com a afirmação de que o texto não foi escrito por Gabriel Garcia Márquez.
No artigo Marquez's 'latest poem' is a hoax (Calcuta on Line) o autor esclarece a origem do poema.
O poema La Marioneta foi escrito por Johnny Welch, um ventríloquo que trabalha no México, para o seu boneco de nome Mofles. "Estou muito desapontado por haver escrito alguma coisa e não receber o crédito" disse Johnny Welch, o verdadeiro autor do poema.
Em maio de 2008, o texto intitulado Despedidadeumgénio_Paris circulou em versão .pps. Imagens maravilhosas da cidade de Paris.
O fundo musical é a bela Hier encore cantada por Charles Aznavour. Tudo muito bonito, mas o texto é apócrifo.
Íntegra do texto falsamente atribuído a Gabriel García Márquez.
La marioneta
Se, por um instante, Deus se esquecesse de que sou uma marionete de trapo e me presenteasse com um pedaço de vida, possivelmente não diria tudo o que penso, mas, certamente, pensaria tudo o que digo.
Daria valor às coisas, não pelo que valem, mas pelo que significam.
Dormiria pouco, sonharia mais, pois sei que a cada minuto que fechamos os olhos, perdemos sessenta segundos de luz. Andaria quando os demais parassem, acordaria quando os outros dormem. Escutaria quando os outros falassem e gozaria um bom sorvete de chocolate.
Se Deus me presenteasse com um pedaço de vida, vestiria simplesmente, me jogaria de bruços no solo, deixando a descoberto não apenas meu corpo, como minha alma.
Deus meu, se eu tivesse um coração, escreveria meu ódio sobre o gelo e esperaria que o sol saísse. Pintaria com um sonho de Van Gogh sobre estrelas um poema de Mario Benedetti e uma canção de Serrat seria a serenata que ofereceria à Lua. Regaria as rosas com minhas lágrimas para sentir a dor dos espinhos e o encarnado beijo de suas pétalas.
Deus meu, se eu tivesse um pedaço de vida. Não deixaria passar um só dia sem dizer às gentes – te amo, te amo. Convenceria cada mulher e cada homem que são os meus favoritos e viveria enamorado do amor.
Aos homens, lhes provaria como estão enganados ao pensar que deixam de se apaixonar quando envelhecem, sem saber que envelhecem quando deixam de se apaixonar. A uma criança, lhe daria asas, mas deixaria que aprendesse a voar sozinha.
Aos velhos ensinaria que a morte não chega com a velhice, mas com o esquecimento. Tantas coisas aprendi com vocês, os homens...
Aprendi que todo mundo quer viver no cimo da montanha, sem saber que a verdadeira felicidade está na forma de subir a escarpa.
Aprendi que quando um recém-nascido aperta com sua pequena mão pela primeira vez o dedo de seu pai, o tem prisioneiro para sempre. Aprendi que um homem só tem o direito de olhar um outro de cima para baixo para ajudá-lo a levantar-se.
São tantas as coisas que pude aprender com vocês, mas, finalmente, não poderão servir muito porque quando me olharem dentro dessa maleta, infelizmente estarei morrendo. |
Atualizado em 18 de abril de 2014 | Siga pulhas virtuais no Twitter
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